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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

ONG planeja financiamento para pecuária sustentável






Publicado por SeuGado.com    em 31/01/2018
 


Iniciativa prevê investimento em propriedades da Amazônia e do Cerrado que adotem boas práticas de intensificação; pagamento variará conforme os lucros



Com o objetivo de fomentar uma pecuária mais sustentável no país, a ONG The Nature Conservancy (TNC) está desenvolvendo um instrumento de financiamento para pecuaristas que querem intensificar a produção. Uma das ideias escolhidas pelo Brasil Lab, iniciativa que apoia produções mais sustentáveis no país, em 2017, a Climate Smart Cattle Ranching prevê a criação de uma nova companhia que oferecerá assistência técnica e capital para quem aderir ao projeto. “A TNC não é uma instituição financeira, é a maior ONG de conservação ambiental do mundo. E, quando falamos em sustentabilidade, uma das partes importantes é a financeira”, diz Anna Lucia Horta, business and investment officer da ONG no Brasil.

Com a intensificação da pecuária e a adoção de boas práticas, a ONG espera reduzir o desmatamento. “Se o produtor tiver acesso a uma pecuária melhor, vai conseguir produzir a mesma quantidade de carne em uma área menor e vai parar de desmatar”. Com isso, segundo Anna, ele ainda pode liberar espaço para a soja - como tem acontecido há anos - sem abrir novas áreas. “Você consegue também diminuir a emissão de carbono por quilo de carne produzida, porque associa recomposição da floresta, proteção das Áreas de Preservação Permanente (APPs), manejo do pasto, menor tempo até o abate, entre outras práticas”, explica.

De acordo com ela, apesar de a Embrapa ter desenvolvido mecanismos de intensificação da pecuária há muitos anos, eles ainda são desconhecidos de boa parte dos pecuaristas, culminando em 80% das pastagens com algum grau de degradação. “Temos uma média de 0,7 cab/ha no país, mas conseguimos elevar para 4 cab/ha com operações como colocar calcário no solo, fazer manejo de pasto e colocar cercas para proteger as APPs e para rodar o gado. Só que muitos produtores não têm acesso a crédito para fazer isso”, conta.

Como deve funcionar - Para colocar o instrumento em prática, uma nova companhia será criada. Empresa e produtor assinarão um contrato em que a companhia oferecerá assistência técnica - por meio de um diagnóstico e um plano de intensificação personalizado - e crédito e o produtor se comprometerá a aderir totalmente ao Código Florestal e seguir as boas práticas de produção da Embrapa, incluindo rastreabilidade do gado. “Cobra-se muito dos frigoríficos que não comprem gado de região desmatada e você só consegue provar isso se esse gado puder ser rastreado”, afirma Anna.

A gestão da propriedade continuará a cargo do pecuarista. “A decisão é dele. A companhia não vai impor nada, até o plano individual feito pela assistência técnica o pecuarista pode decidir aceitar ou não”. Segundo ela, é importante que o conhecimento técnico seja incorporado pelo pecuarista para que, quando a parceria acabar, ele continue implementando as técnicas. “Se pensarmos que vários desses produtores têm mais de uma propriedade, é razoável supor que a nova companhia invista em uma e o produtor aplique a técnica nas outras”.
O modelo exato de negócios ainda não está definido, mas companhia e produtor dividirão o investimento inicial. “Estamos pensando em 85% pela nova companhia e 15% pelo produtor. Isso vem de alguns estudos que fizemos do fluxo de caixa disponível do produtor. Quando nada, ele tem gado para colocar lá dentro”. A porcentagem, porém, não seria rígida e o produtor mais capitalizado poderia investir mais. Os lucros, então, seriam divididos nessa mesma proporção e o retorno dos investidores não teria um prazo fixo para ser pago. “A ideia é que sejam investidores pacientes, que estejam dispostos a esperar um tempo maior e dividir o risco”. O ganho esperado seria determinado na assinatura do contrato, mas como clima e mercado podem afetar os rendimentos no período da parceria, a duração dela variaria de acordo com o tempo necessário para o retorno do investimento. “Na hora que esse investimento for pago, a parceria acaba. Isso pode acontecer de 7 a 8 anos em média”. Nesse período, é possível que sejam feitos investimentos menores de manutenção para que o retorno ao investidor seja garantido, mas isso dependerá do que for acordado no contrato.

Por enquanto, a TNC está buscando parceiros e investidores para a criação da nova companhia. O objetivo é iniciar os trabalhos no segundo semestre de 2018 com foco inicialmente na Amazônia e no Cerrado. Na Amazônia, a ONG já tem o programa ‘Do Campo à Mesa’, então é possível que o projeto comece por essas fazendas - sem ficar limitado a elas -, mas a nova iniciativa será diferente. “Naquele primeiro programa, a TNC deu muitos insumos, o alcance era muito limitado. Aqui a ideia é que essa limitação de financiamento não seja tão forte”.

Ganhos - Para Anna, a iniciativa pode trazer benefícios para diversos elos da cadeia. A TNC ganha ao garantir que práticas mais sustentáveis estão sendo adotadas, os investidores têm seu retorno e o mercado passa a ter acesso a uma carne de qualidade ainda melhor. Já o pecuarista consegue aumentar a produção - e pode até receber prêmio na arroba pela qualidade e sustentabilidade da carne. De acordo com ela, essa forma de acesso a crédito ainda teria o benefício da divisão de risco, já que os valores pagos não são fixos e variam com o rendimento da propriedade. “E nesse caso o produtor também não está sozinho, tem assistência técnica com interesses totalmente alinhados ao dele. Quanto melhor sucedido for o produtor, mais dinheiro o produtor e companhia ganham”.

Fonte: Portal DBO